Chalé de Hades

Os olhos da jovem Trent se apertaram em meio a escuridão, fixando-se na pequena forma de vida que brotava no centro do chalé. Começou com algo simples, uma pequena ramificação... Parecia tão pequena e frágil que o senso de proteção foi instintivo no peito da menina, que escorregando da cama pôs-se a engatinhar em direção a plantinha como se não quisesse assusta-la... Que ato desnecessário! Aquela não era o tipo de flor que se assustava atoa.
O raminho se abriu lentamente, mas ao mesmo tempo rápido demais para uma flor normal. Em questão de segundos já era uma rosa negra, com pétalas delicadas e brilhantes como seda, a pesa da aparência macia de veludo. Que planta bela...
_Uau... - Suspirou admirada, sentando-se ao lado do presente como se fosse sem bem mais precioso, erguendo a mão direita para toca-la. O toque foi lento, cuidadoso... Não se arriscaria a machuca-la. Não se perdoaria caso o fizesse... - Eu... Eu... - Gaguejou grogue, não encontrando palavras para expressar a gratidão. O presente não era de Hades, senhor do submundo... O presente era de Hades, o pai de Clarie. Era o Hades que curava ao invés de ferir, o que se importava... O Hades que doara para a menina sua característica mais marcante: o dom de amar e odiar com a mesma intensidade, sendo ambos muito amplos.
Enquanto se deleitava com a beleza da rosa, o primeiro ganido baixo se pronunciou. Clarie se ajeitou no chão, mantendo as costas eretas como se fosse um indício de que estava atenta, varrendo o pequeno aposento com os olhos cuidadosos. Por alguns instantes nada viu, pois nem mesmo ela pode notar o pequeno filhote... O cãozinho negro escondido nas sombras estava tão camuflado que cabia apenas a ele decidir quando seria visto... Corajoso, mesmo que pequeno, não tardou a se aproximar. A filha de Hades o viu de relance, apenas uma pequena movimentação no escuro... Seu olhar se concentrou ali, colocando-se entre o desconhecido e sua delicada flor. Nada poderia feri-la....
Mas de que adiantava o escudo humano se ao ver o pequeno bichinho a guarda caiu? A transição entre preocupação e admiração não demorou mais do que alguns segundos, deixando a criança boquiaberta.
_Ei, rapaz... - Chamou assim que o corpo escuro saiu das sombras, deixando visível a hesitação e preocupação. A pesar de maior, aquela forma de vida parecia ainda mais frágil que a ramificação inicial do primeiro presente, pois ali havia o sentimento e expressão... O filhote tinha medo, a rosa não. - Ei... Venha cá... Não vou machucar você... - Tentou mais uma vez, esticando uma das mãos na direção do cão infernal. - Não vou deixar que nada lhe aconteça, prometo! - Sussurrou como consolo.
Mesmo com todos os problemas e preocupações, Clarie havia se entregado. Sabia como era se sentir só, como era precisar de proteção... Por alguns segundos ela viu a se mesma no lugar do animal, encolhida na praia antes de seu pai se pronunciar. - Eu não tenho secretaria... - Ecoou as palavras que o pai havia lhe enviado no bilhete, fitando seu pequeno cãozinho com um sorriso apaziguado. Então era essa a sensação de ter um filho...
Enquanto o cachorro do submundo se aproximava, Pandora também se arrastou com cuidado para alcança-lo, tocando-lhe a cabeça assim que foi possível, acariciando entre as orelhas para tentar demonstrar segurança. - Estou aqui, pequeno... Não vou deixa-lo sofrer... - Segredou como se falasse com uma criança, levando a outra mão -que ainda estava apoiada no chão- para o pescoço do animal, acariciando-o também. Mais confiante de si, ele encobriu a curta distância entre eles, não precisando de mais do que alguns passos para fazê-lo. Clarie o puxou com cuidado, aninhando-o em seu colo com suavidade, abraçando-o como se aquilo fosse protege-lo de tudo. - Sim, estou aqui meu pequeno Malabin... Não vou deixa-lo sozinho... - O nome lhe saiu com naturalidade, quase como se o conhecesse desde sempre.

Enquanto consolava o seu novo bebe, o tempo pareceu voar. No que aparentaram alguns segundos, o sol invadiu as frestas do chalé, iluminando a criança com o mascote do colo à poucos centímetros da rosa negra.
Ao notar que Malabin dormia, Clarie se levantou com cuidado, deixando que a criatura escorregasse para o chão. Em passos largos e silêncios ela se dirigiu para o banheiro, retirando a escova de dentes do pequeno copo transparente é a colocando sobre a pia, utilizando do objeto recém liberado como um minúsculo balde, enchendo-o de água até o topo (juntando cerca de 100 ml's) e voltando o centrado aposento principal. Com muito cuidado, como se tivesse medo de afogar seu presente, a menina derramou o líquido na base da planta, mesmo sem saber se daria certo. Não iria arranca-la e se sujeitar a perdê-la... Cuidaria com cuidado da pequena flor.
Ao ver a água se extinguindo pelo chão, a menina sorriu, satisfeita com o próprio plano.
_Ei, pai... Hum... Obrigada. - Murmurou vacilante, olhando para as pétalas negras como se elas pudessem conecta-las ao seu progenitor. - E... Bom... Eu também amo você... - Admitiu com um sorriso sem graça, sentindo a face corar. Era a primeira vez que falava aquilo em voz alta, que assumia para que Hades ouvisse... Mas era algo extremamente bom, puro... Com um ultimo olhar para a dupla que agora lhe pertencia, Clarie suspirou aliviada, sentindo a alma mais leve e tranqüila. - Boa noite. - Sussurrou para os três: Malabin, a flor e Hades.