Treino de Beatrice Chateubriand e Raphael Przysiezny.

Beatrice tinha sérios problemas com o Acampamento Júpiter, mais precisamente com as autoridades dentro dele. Ela nunca foi alguém que aceitava bem as ordens que lhe eram dadas, também pudera, era a arrogância e orgulho em pessoa, mas havia um limite de autoridade, certo? Tinha que ter.
O pretor não podia simplesmente interromper sua reflexão no teto do templo de seu pai e obrigá-la a treinar com um novato da Segunda Coorte.
"Pelo menos é da Segunda Coorte. Poderia ser pior" sua mente lhe alertou.
É, realmente podia. Beatrice não queria nem imaginar como seria treinar com alguém da Terceira, Quarta ou, a maior vergonha do Acampamento, a Quinta Coorte. Deuses, seria uma vergonha. Apesar de que, havia aquelas raras exceções, como Phillip, que pertenciam a outras Coortes e não deixavam a desejar.
Raras exceções.
Do mesmo jeito, Beatrice não se sentia confortável tendo que acompanhar um semideus novo em seu treinamento. Ninguém a acompanhou em seu treinamento — não que ela desejasse, mas isso não vem ao caso —, porque ela tinha que fazer isso com outras pessoas?  
Não havia como fugir dessa ordem, o cara era um Pretor, afinal, então Beatrice se viu caminhando contra gosto para o Alojamento da sua Coorte, lançando olhares hostis para os que cruzavam seu caminho.
Seu mau humor estava terrível nessa manhã.
Quando atravessou as portas do Alojamento foi direto para a sua cama, colocando a armadura de couro sobre a blusa preta e as luvas que ganhara há algum tempo. Pegou a espada e a girou entre os dedos antes de olhar ao redor antes de encontrar a figura desconhecida.  Com uma sobrancelha arqueada, a semideusa fez seu caminho até ele.
— Ei, débutant. Sou Beatrice Hayley Chateubriand, filha de Plutão, legionária da Segunda Coorte. Eu vim te levar para o seu primeiro treinamento.  

Beatrice suspirou quando os dois pararam no centro da arena e se virou para o novato. Ela não tinha o visto antes, apesar de achá-lo estranhamente familiar. Depois voltou o seu olhar ao redor, agradecendo internamente quando notou que haviam poucos semideuses no Campos de Marte, Beatrice ainda não lidava bem com um maior número de pessoas.
— Aqui. — respondeu ela — Tem alguma preferência por monstro?  

A impaciência era um grande defeito da filha de Plutão e esperar a deixava irritada, não importava se você para esperar segundos ou horas, era simplesmente demais para alguém como ela.
Então, quando o débutant finalmente escolheu contra o que iríamos lutar, imaginei um dos bonecos transformando-se no lestrigão e, quase que imediatamente o boneco começou a mudar, aumentando de tamanho e começando a se movimentar.
Beatrice se preparou para lutar, girando a espada entre os dedos e ficando em posição de luta. Observou o monstro/boneco começar a dar seus passos na direção dos semideuses e franziu o cenho.
— Qual seu nome mesmo, débutant? — perguntou ao semideus ao seu lado.  

O garoto se apresentou como Raphael com um sobrenome que Beatrice acreditou nunca ser capaz de conseguir pronunciar, isso que ela era francesa, palavras complicadas eram sua vida. Eram, pelo jeito.
Lestrigões não eram, particularmente, os monstros preferidos de Beatrice. Eles não eram muito inteligentes, para começar. Ciclopes também não eram, no entanto, a semideusa amava enfrentá-los, mas havia algo na cópia do monstro a sua frente que o tornava... Chato.
Quando o monstro lançou a primeira bola de fogo em direção a eles, Beatrice se lembrou o porque de não gostar de lutar contra lestrigões.
A filha de Plutão se jogou para o lado para desviar, levantando-se já com a espada em mãos.
— Vamos lá, débutant, esse é seu treino. — disse.

Ficar olhando o treinamento de um campista não era muito o feitio de Beatrice, na verdade, ela nunca tinha feito isso antes. Normalmente, quando aparecia no Campos de Marte era única e exclusivamente para seu próprio treinamento, nunca tinha ficado observando outros, buscando novas técnicas ou conhecimentos de batalha, mas ela queria, definitivamente, soltar raios escuros com as mãos.
A filha de Plutão também estava só cansada de observar e um pouco irritada por ter sido um alvo do monstro, aproveitou que o lestrigão mantinha sua atenção no garoto do raio e fez com que duas mãos surgissem do chão, agarrando as pernas do monstro e o mantendo preso e distraído para que a semideusa pudesse se aproximar dele e desferir um golpe em seu flanco esquerdo;
   

A semideusa tinha visto, de relance, Raphael vir para cima do monstro e ser arremessado para longe, resultado de um tapa do mesmo. Por dentro, Beatrice se compadeceu com o novato, mas nunca admitiria isso para ele e também estava ocupada demais tentando desviar dos braços gigantes do lestrigão para se preocupar com qualquer coisa outra.
Ela tentou atacar um dos braços do inimigo quando o mesmo segurou sua espada antes que pudesse entrar com contato com sua pele e, Beatrice só teve tempo suficiente para soltar a espada antes dela ser arremessada para o alto, parando alguns metros de distância da semideusa.
Esta, vendo sua desvantagem, se afastou por alguns metros e tirou duas de suas kunais do espaço entre sua pele e a calça jeans, girando as duas no dedo e olhando para o lestrigão de modo ameaçador.
   

O débutant tinha potencial, a filha de Plutão tinha que admitir isso, ainda mais quando ela acompanhou o monstro praticamento tombando ao chão.
Foi então que um sorriso puramente maléfico surgiu no rosto da garota e ela lançou a kunai, atingindo o monstro no peito e transformando-o em pó.
— Eu adoro fazer isso. — suspirou, guardando a outra kunai — Está tudo bem, Raphael?    

Beatrice estreitou os olhos diante da resposta um tanto fria do débutant, mas deu de ombros, voltando a girar a kunai e olhando de relance para o garoto.
— Então, outra vez?   

Beatrice quase deixou uma exclamação surpresa puramente irônica escapar por seus lábios quando notou que o menino sorrira, para ela ou para a situação, isso ela não sabia dizer, mas, aparentemente, Raphael era tão desprovido de emoções quanto a própria filha de Plutão.
A semideusa não o respondeu de imediato, apenas deu as costas para ir buscar sua espada antes de a guardar no cinto e tornar para onde o monstro se transformara em pó, abaixando-se para pegar sua segunda kunai.
Por último, parou em frente aos outros bonecos e sorriu ao imaginar o que gostaria de enfrentar.
Uma dracaenae.
— Cuidado, débutant. — o provocou, girando cada kunai em uma das mãos.
 

A filha de Plutão franziu a sobrancelha para as palavras do garoto direcionadas a monstra que surgira no lugar do boneco.
Com um sorriso de pura satisfação em seu rosto, Beatrice guardou as kunais e desejou que seu arco, Nimaya, aparecesse em suas mãos, assim como a aljava em suas costas. De lá, a semideusa tirou uma flecha e a preparou no arco, mirando na barriga da monstra antes de soltá-la e observar a flecha a atingindo com precisão.
 

Beatrice gostava de lutar com um arco, manter-se distante do monstro era uma vantagem, uma grande vantagem. Enquanto Raphael ia a luta direta, Beatrice se manteve focada em distrair e dividir a atenção da dracaenae. Ela não conseguiria se manter focada nele se tivesse flechas voando em sua direção.
Por isso, ela preparou outra flecha, mirando, dessa vez, em uma de suas 'pernas' de serpente.  
 

Foi impossível segurar o sorriso que surgiu no rosto da filha de Plutão quando ela viu o olhar furioso do legionário da sua Coorte e se segurou para não deixar uma risada escapar. No entanto, para a segurança de Raphael — e isso não queria dizer que ela se importava com ele —, Beatrice fez mãos enormes saírem do chão para manter a monstra onde estava.